Tema:
Fraternidade e superação da violência
Lema: Vós sois todos irmãos (Mt 23,8)
Lema: Vós sois todos irmãos (Mt 23,8)
Dando continuidade às reflexões sobre o
tema da Campanha da Fraternidade deste ano que é a superação da
violência, é importante e fundamental que se possa perceber a violência como um
fato social complexo, cujas origens, manifestações, formas, causas e
consequências diferem histórica, cultural, temporal, econômica, política e socialmente.
Diante de uma realidade tão complexa,
não se pode ter a ingenuidade de que existe uma fórmula mágica para resolver o
problema em todas as suas dimensões. É importante que se faça uma análise a
partir de cada dimensão e que as ações também sejam realizadas de forma
coerente, integradas e jamais compartimentadas, isoladas ou de forma
descontínua.
Podemos também identificar os espaços
ou territórios, para usar uma linguagem atual e muito em voga, onde a violência
se manifesta e como esses espaços estão inter-relacionados ou superpostos
tornando o problema mais complexo ainda, principalmente pelos atores ou agentes
envolvidos. Muitas vezes a vítima de uma forma de violência também é agente que
prática outros atos de violência contra outras pessoas e, desta maneira, se
forma uma teia que facilita a reprodução da violência de forma generalizada, o
que caracteriza a chamada “cultura da violência”, onde todos estamos inseridos,
sem exceção.
O primeiro espaço onde a violência está
presente e, muitas vezes de forma oculta e dissimulada, é a família. Estudos
indicam que os índices de violência doméstica são muito maiores do que as
denúncias feitas perante organismos públicos, principalmente junto aos
organismos de saúde, policiais e de defesa dos direitos humanos.
Aqui cabe um destaque, tem muita gente
que confunde o conceito de direitos humanos com a defesa pura e simples de
bandidos, quando na verdade direitos humanos são os direitos fundamentais de
todas as pessoas, incluindo a vida, a liberdade de ir e vir, liberdade de
expressão, liberdade de opção sexual, liberdade de crença, liberdade para ter
uma vida digna, liberdade de a pessoa não sofrer discriminação, ser maltratada,
liberdade para buscar ser feliz, sem que isto prejudique o próximo. A superação
da violência pressupõe a garantia e a defesa integral dos direitos humanos.
Pois bem, a violência doméstica se
manifesta na forma como os pais tratam, cuidam e criam seus filhos e filhas. É
comum, não apenas no Brasil como também em diversos países, que pais espanquem
filhos/as, sejam extremamente autoritários, violentos em suas relações. Existe
muita violência tanto dos pais quanto das mães em relação aos filhos, inclusive
uma forma dissimulada de violência que é o abandono, a negligência ou até mesmo
atos de violência física e psicológica, incluindo assassinatos.
Tais práticas irão moldar o caráter e a
personalidade da criança e adolescente e acompanha-las pelo resto da vida,
vários estudos indicam que crianças e adolescentes que sofrem maus tratos,
sofrem violência doméstica se tornam adultos também violentos e irão reproduzir
os mesmos modelos ou padrões de relações familiares quando adultos; é o que
podemos dizer como “reprodução da violência”, culturalmente, geração após
geração.
De forma semelhante as notícias e
estudos indicam que, no caso brasileiro, por exemplo, existe um alto grau de
violência contra a mulher, a chamada violência de gênero, onde boa parte desta
violência tem suas raízes históricas e culturais, pelo machismo que está na
base da formação cultural de nosso país, onde ao homem, ao marido, companheiro,
amante, namorado é dado o direito de posse em relação `a mulher, inclusive seu
corpo. Por muitas décadas ou séculos a sociedade brasileira e ainda isto está
presente nos dias de hoje, tolera inúmeros crimes contra a mulher em nome da
“defesa da honra”, tanto em relação `a esposa quanto `as filhas.
Essas são as raízes do feminicídio, dos
estupros, das agressões, dos assassinatos com requinte de crueldade contra
mulheres e meninas indefesas, tanto na dimensão da violência doméstica quanto
na violência contra as mulheres em espaços públicos, que é o círculo ampliado
do universo da violência.
No contexto da violência doméstica
existe também a violência sexual, que não pode e nem deve ser negligenciada,
principalmente de pais, padrastos, parentes próximos contra crianças e
adolescentes, principalmente contra meninas, as vezes com tenra idade. Há casos
de violência sexual até mesmo contra bebes e crianças com menos de quatro ou
cinco anos, uma verdadeira aberração em se tratando de violência contra seres
humanos indefesos.
Outra forma de violência doméstica
muito frequente são as agressões, por vezes até fatais, de irmãos e irmãs entre
si ou de filhos e filhas contra pais e mães, inclusive quando esses são idosos
e acabam sendo vítimas indefesas de seus próprios familiares, em um ambiente
que deveria primar pelo amor, carinho e compreensão mútua entre seus membros.
Portanto, se desejarmos superar a
violência precisamos repensar as nossas relações familiares e substituir a
brutalidade, o autoritarismo, a perversidade, os maus tratos, as agressões
físicas, verbais ou psicológicas pelo diálogo, pela solidariedade, pela
compreensão mútua, pelo amor, pelo perdão e pela reconciliação, ensinamentos
sagrados constantes, principalmente, do Novo Testamento da Bíblia Sagrada,
fonte única da fé cristã.
Não existe sociedade que busque a paz
se no seio das famílias existe uma verdadeira guerra que é a violência
doméstica, que se manifesta nas formas de violência de gênero, violência contra
a mulher e as meninas, violência contra crianças, adolescentes, violência
sexual e contra familiares idosos.
Fonte:
- Juracy da Silva
Professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, revistas, sites, blogs e outros veículos de comunicação.
Professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, revistas, sites, blogs e outros veículos de comunicação.
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